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Xullaji disponibiliza o álbum “Prétu 1 – Xei di Kor”, viajando pela resistência africana

O álbum tão aguardado, Pretu 1 – Xei di Korde Xullaji, acaba de ser lançado para o deleite do público. Este projeto ambicioso une música e arte visual para explorar formas de resistência às complexas realidades sociais, políticas, económicas e tecnológicas que afetam as comunidades negras.

Chullage, conhecido por seu engajamento político no rap, bem como por sua colaboração em projetos musicais e design de áudio para artistas visuais e teatro sob o pseudônimo “soundslikenuno”, recentemente nos apresentou Xullaji Pretuum “Afronauta”, uma viagem através de uma dimensão sonora sampleada.

Em um surto que ele mesmo descreve como “esquizofónico”, Xullaji se transforma em Prétu e nos apresenta um novo álbum, a primeira parte de seu novo projeto. Pode parecer confuso para alguns, afinal Prétu é Xullaji e Xullaji também é Prétu. E Prétu 1: Xei di Kor, a primeira parte em formato de álbum, é muito mais do que um simples objeto musical. É uma jornada sem começo nem fim definido. Um encontro com a ancestralidade, uma viagem cósmica feita por um afronauta, em busca da libertação.

“Xei di Kor”, a faixa que abre o álbum como um manifesto, nos dá uma ideia de onde este trabalho vem e para onde vai. Prétu propõe uma reinvenção da identidade da pessoa preta, a morte das barreiras impostas pela branquitude, a afirmação de um pensamento político e de uma direção atenta e denunciadora das perversidades do colonialismo e do racismo, e as diversas e menos óbvias formas como estes ainda se manifestam: “Hoje dou um tiro no bicéfalo/ Morre um branco, morre um preto/ E nasci eu: Prétu — xei di kor”.

Esta reconstrução e reimaginação da identidade está alinhada com o próprio processo artístico, no qual surgem infinitas possibilidades na expressão através da arte que aqui não se limita apenas à palavra e à batida. Sendo politicamente comprometido e esteticamente africano, com uma visão guiada pelo pan-africanismo, Prétu não é apenas uma declaração política e um ressurgimento de um pan-africanismo congelado na história. Há aqui um encontro com a espiritualidade, uma interseção com referências do passado, que também é presente e futuro.

Este projecto não se enquadra em nenhum género musical específico, mas aposta numa densidade sonora que desafia as normas da música. convencional cultural. Uma densidade que se dirige a todos, independentemente da raça, e que desafia os padrões do regime cultural capitalista.

“Xei di Kor”: o tema que abre o álbum em jeito de manifesto diz-nos muito sobre onde vai e de onde vem este trabalho. Prétu propõe uma reinvenção da identidade da pessoa préta, a morte das barreiras ditadas pela branquitude, a afirmação de um pensamento político e de uma direção atenta e denunciadora das perversidades do colonialismo e do racismo, e as formas diversas e menos óbvias como estes ainda se manifestam: “Hoje dou um tiro no bicéfalo/ Morre um branco, morre um preto/ E nasci eu: Prétu — xei di kor”.

Esta reconstrução e reimaginação da identidade está alinhada com o próprio processo artístico, no qual surgem ínfimas possibilidades na expressão através da arte que aqui não se cinge somente na palavra e na batida. Sendo politicamente comprometido e esteticamente africano, numa visão que tem o pan-africanismo como guia, Prétu não é somente um statement político e um ressuscitar de um pan-africanismo congelado na história. Há aqui um encontro com uma espiritualidade, um cruzamento com referências do passado, que é também presente e futuro.

Esta ligação com a realidade abre a porta para uma viagem de uma ordem superior que vai além de uma mera caracterização social e demográfica desta população. É aqui que a dimensão estética entra como um fator que une todos esses símbolos – de pensamento político, de vestuário, de referências literárias, de cores, de músicas e de toda uma imagética que poderíamos chamar de pan-africofuturista, que visa elevar a cultura africana da qual este projeto parte para outra dimensão e lugar. Este lugar só é possível através desta conexão de um foro espiritual, imagético e cultural com tudo o que existe e que já foi pensado por outras pessoas no passado.

Embora esta mistura da música tradicional africana com o eletrônico – algo que também tem sido usado por outros artistas, na afirmação de um movimento chamado “Nova Lisboa” -, Prétu não se encaixa nesta Lisboa. Pelo contrário, olha com ceticismo e denuncia sem rodeios a sua perversidade: através da mercantilização da música negra num vai e vem de tendências que mudam conforme o mercado, a expropriação da cultura negra sem que haja um retorno para as comunidades, ou a celebração desta por parte de quem mantém o mesmo racismo e preconceito contra quem é do bairro, como podemos ouvir em “Fla Ma Ka Gosta di Prétu” – “Diz que não gosta do bairro, lá tem salalé. Mas vem no B.Leza, ouvir balancé”.

Pretu 1 – Xei di Kor é uma experiência revolucionária que ultrapassa os limites da música e convida todos a explorar uma narrativa em constante evolução da resistência africana e a desafiar as perspectivas convencionais de cultura e identidade.